FICAS em Ação nº 83 – Nov-Dez/20

Economia solidária é ponto central de programa voltado a mulheres migrantes

A iniciativa é uma parceria estratégica com a Fundação Avina e a Missão Paz e conta com a participação de 28 bolivianas que vivem em São Paulo.

Foto: acervo FICAS

Depois de conduzir rodas de escuta com mulheres de diferentes nacionalidades que vivem no Brasil, o FICAS identificou que a invisibilidade as torna mais vulneráveis à violência doméstica e à exploração no trabalho. A partir daí, em 2018, nasceu o Programa de Formação de Coletivos de Migrantes e Refugiadas/os, uma parceria estratégica com a Fundação Avina e a Missão Paz, que tem como objetivo apoiar o desenvolvimento socioemocional e econômico dessas mulheres.

No primeiro ano, participaram turmas de filipinas e de bolivianas e, em 2020, o programa segue com uma turma de 28 mulheres bolivianas, que vivem em São Paulo. A formação está estruturada em uma primeira etapa, chamada “Entre Nós”, que busca fortalecer a identidade e autoestima das mulheres, além de trazer informações sobre seus direitos, equipamentos públicos disponíveis, espaços de lazer e cultura, entre outros temas. O projeto também sensibiliza as instituições públicas e comunitárias para que atendam com mais cuidado e atenção essas mulheres e seus filhos/as.

Com uma metodologia lúdica e afetiva, a partir das atividades do “Entre nós”, foi criada uma rede de apoio. Também foi identificada a necessidade de se buscar formas alternativas de geração de renda para que as mulheres ganhassem mais autonomia. A iniciativa passou então para uma nova etapa, criada a partir de conversas com as mulheres participantes da primeira etapa, o “Entre Rendas”, que tem como foco o empoderamento econômico.

Depois de contar com o apoio do Instituto C&A no segundo ano, em 2020, o Instituto Consulado da Mulher ministrou aulas de empreendedorismo no primeiro semestre e, na segunda metade do ano, as mulheres foram apresentadas ao conceito de economia solidária por uma consultora especialista, Débora Rodrigues.

Desde março, a formação passou a acontecer virtualmente por conta das medidas necessárias para conter a pandemia de Covid-19. As participantes chegaram a este final de ano em um processo de pensar um negócio próprio, pesquisando e tomando decisões para definir quais produtos poderiam ser produzidos e comercializados por elas.

 “A adaptação para o digital gerou dificuldades técnicas no início, mas percebemos que as atividades acabaram entrando na agenda das participantes. O grupo está mais comprometido e propositivo, com vínculos mais fortalecidos”, declara Raquel Catalani, consultora do FICAS e uma das facilitadoras do Programa de Formação de Coletivos de Migrantes e Refugiadas/os.

Participar do grupo nos ajudou a voltar a ter metas e sonhos para nossas vidas. Eu já não me sinto muito sozinha e me fortaleço olhando para a vida de cada uma das mulheres. Cada uma de nós tem uma história de superação e, com isso, todas nos tornamos mais fortes”, compartilha Arody Vargas Poma, costureira boliviana de 32 anos. Temos grandes sonhos e o FICAS nos ajuda nesse processo. Tenho aprendido desde como trabalhar em grupo, como executar um projeto, a parte financeira, (como calcular) custos de produção e venda de produtos. Nosso empreendimento está sendo fortalecido com todo esse aprendizado e esperamos ser bem sucedidas. Me sinto confortável no grupo e fico muito feliz de trabalharmos juntas”, completa a boliviana que veio viver no Brasil em 2018.

Colabore!

A expectativa do FICAS é poder mobilizar recursos para que as atividades sigam acontecendo em 2021, para acompanhar o fortalecimento do grupo e seus negócios, assim como possibilitar a participação de novos grupos e perfis de mulheres. Se você tiver interesse em contribuir com essa iniciativa, que já mudou a vida de dezenas de mulheres migrantes, fale conosco: comunicacao@ficas.org.br ou (11) 3045-4313 / (11) 95816-0335.

> Saiba mais sobre os parceiros: Fundação AvinaInstituto Consulado da Mulher e Missão Paz.


 

FICAS assessora o Programa Crescer Aprendendo da United Way Brasil

Iniciativa está apoiando famílias a fim de reduzir os impactos do isolamento social no bem-estar físico, psíquico e emocional das crianças pequenas.

Uma das consequências da pandemia de Covid-19 tem sido o isolamento social, necessário como forma de contenção da doença. E foi pensando em mitigar seus impactos no bem-estar físico, psíquico e emocional na primeira infância que a United Way e parceiros abriram o edital 2020 do seu Programa Crescer Aprendendo, direcionado aos estados de Minas Gerais, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo.

Nesta iniciativa, o FICAS assessorou o processo seletivo e agora segue com o acompanhamento de 27 organizações durante a execução do programa. Seu trabalho consistiu na elaboração do edital e do formulário de inscrição, apoio no processo de divulgação e atendimento às organizações interessadas em participar da seleção, elaboração de formulários para monitoramento e acompanhamento da execução do programa.

As organizações da sociedade civil escolhidas atendem a famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica com crianças de até seis anos de idade, preferencialmente inscritas no Cadastro Único para programas sociais do governo federal. O apoio oferecido inclui o fortalecimento de 2500 famílias com informações sobre desenvolvimento infantil, interação e formação de rede apoio, por meio virtual, de agosto a dezembro de 2020.

Estão sendo abordados temas como: o papel da família, alimentação saudável, higiene, saúde, comportamento e direitos da criança, a importância do brincar, a promoção de uma cultura de paz e saúde mental de crianças e adultos. Este último tema inclui apoio profissional virtual individualizado para os casos de maior necessidade.

Além disso, entre os meses de outubro e novembro, foram distribuídos 2500 cartões alimentação com recarga mensal, numa ação emergencial de apoio às famílias participantes da formação. Dentre essas famílias, 900 também receberam livros infantis.

O resultado positivo das ações levou a United Way Brasil a planejar sua replicação em mais cinco cidades de Minas Gerais e São Paulo, novamente com assessoria do FICAS, beneficiando mais 500 famílias, no período de janeiro a abril/2021.

> Saiba mais sobre a United Way.


 

Encontro da RedeMiR desse ano abordou o contexto, a pandemia e a integração de migrantes e refugiados

FICAS foi o responsável pela organização e facilitação do evento da Rede Solidária para Migrantes e Refugiados, que aconteceu online pela primeira vez, durante o mês de outubro.

Uma das rodas de conversa virtuais do 16º encontro da RedeMiR

De 13 a 29 de outubro de 2020, aconteceu o 16º encontro anual promovido pela Rede Solidária para Migrantes e Refugiados (RedeMiR), com o tema “Refugiados e migrantes: contexto, pandemia e integração”, com o objetivo de ser um espaço de capacitação, troca de experiências e proposição de políticas públicas. A rede foi articulada em 2004 sob a liderança do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) com apoio da ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, e reúne mais de 60 organizações da sociedade civil de todo o Brasil.

Estiveram inscritos 252 participantes, sendo que participaram ativamente 159 pessoas de 72 organizações, incluindo seus núcleos regionais. 20 estados e o DF, e 36 cidades estiveram representados no encontro.

A edição deste ano aconteceu pela primeira vez de forma virtual, devido ao contexto atual da pandemia de Covid-19, e foi conduzida pela Ir. Rosita Milesi, do IMDH, e pelo FICAS, que facilitou o evento pelo terceiro ano consecutivo. Ampliado para seis dias de encontros, com o formato online, o evento teve seu caráter democrático reforçado, possibilitando a participação de mais pessoas.

Os temas dos encontros foram: “Fronteira, refúgio e migração: fluxos e desafios”, “Migração indígena: especificidades, acolhida e integração”, “ACNUR e a assistência aos refugiados em tempos de pandemia”, “Integração dos refugiados e migrantes: práticas e desafios”, “Medidas governamentais e proteção dos direitos dos migrantes e refugiados” e “RedeMiR: aprendizados, reflexões e articulações”.

“Participei dos três últimos encontros anuais da RedeMiR e foram todos de grande valia, momentos de troca de saberes, que reforçam a importância de se trabalhar em rede. A edição deste ano, por ser virtual, exigiu mais criatividade dos organizadores e eficácia dos expositores para preparar os conteúdos apresentados. Estão todos de parabéns!”, afirma Darcilla Antoniolli, colaboradora do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), da Pastoral do Migrante de Caxias do Sul (RS). “O encontro foi muito bom e proveitoso. Todos os temas abordados são muito importantes e vão contribuir com o dia a dia de quem trabalha na base, especialmente neste tempo de pandemia”, diz.

“Gostaria de destacar o encontro do dia 27, sobre as medidas governamentais. As informações trazidas pelos convidados foram excelentes, porque permitem orientar o trabalho do dia a dia das organizações que atendem a migrantes e refugiados, ainda mais no cenário atual. Foram abordados com clareza temas como documentação, regularização, naturalização, revalidação de diplomas, além da retomada dos processos migratórios pelas autoridades”, declara Aracelis Márquez, venezuelana voluntária da Pastoral dos Migrantes de Boa Vista (RR).

Lançamento do livro “Migração e Refúgio”

Capa do livro lançado no encontro

O último dia do encontro foi marcado pelo lançamento da publicação “Migração e Refúgio – Ação em rede e práticas acolhedoras no Brasil”, uma parceria técnica entre o IMDH, a Fundação Avina, o FICAS e a RedeMiR, que contou com apoio do ACNUR e colaboração de organizações que participaram do Encontro RedeMiR de 2019. Estão reunidas na publicação 27 práticas de acolhida, compartilhadas por 21 instituições de 18 cidades. Além de compartilhar práticas inspiradoras, a edição incentiva o fortalecimento da atuação em rede, com objetivo de melhor acolher, proteger e integrar a população migrante e refugiada no Brasil.

> Baixe sua edição do livro “Migração e Refúgio” aqui.
> Confira a cobertura do Encontro Anual feita pelo IMDH:


 

Fundadora do FICAS integra mesa no Encontro Nacional do Terceiro Setor

A 16ª edição do evento foi totalmente online e dedicada a refletir sobre o cenário atual e os cenários de futuro no setor social.

Participação virtual do FICAS no ENATS 2020

“A experiência social e solidária como pilares para o pós-pandemia” foi a pauta da mesa para a qual Andreia Saul, diretora executiva e fundadora do FICAS, foi convidada a participar na programação do 16º Encontro Nacional do Terceiro Setor (ENATS). A edição deste ano foi gratuita e totalmente virtual, via YouTube, e teve como tema “O que vem depois? Um futuro projetado na força de pessoas e comunidades. A visão do Terceiro Setor”.

A mesa realizada no dia 1º de outubro de 2020 contou também com a participação de Franklin Felix, coordenador geral da Abong, e Benedito Nunes, fundador do Instituto Movimento pela Felicidade, e mediação de Janice Salomão, diretora executiva da Conviver Saber Social e conselheira do CeMAIS.

Andreia compartilhou a experiência do FICAS com o Programa de Formação de Coletivos de Migrantes e Refugiadas/os, realizado em parceria com a Fundação Avina e a Missão Paz, que busca o fortalecimento socioemocional e econômico de mulheres. Desta prática, destacou como pilar a ser mantido no pós-pandemia a importância dos vínculos, de confiança, afetivos e de parcerias.

“Nos últimos três anos, o FICAS tem trabalhado com mulheres migrantes em situação de vulnerabilidade social e nos deparamos com questões que não estávamos habituados, como o tráfico de pessoas e o trabalho análogo à escravidão. Em nosso programa, atuamos junto a mulheres filipinas, que vieram trabalhar como empregadas domésticas, mas chegaram ao país já com dívidas com a agência e o empregador, e com bolivianas que, em geral, atuam como costureiras, com uma baixa remuneração e cargas de trabalho de 14 horas. Percebemos que era importante a criação de vínculos de confiança para desenvolver o trabalho, entre elas e conosco”, conta Andreia.

Além do fortalecimento socioemocional, Andreia conta que se fez necessário o empoderamento econômico destas mulheres e destaca como um momento que trouxe bastante aprendizado uma articulação com parceiros que resultou na produção de 5 mil máscaras de proteção para contenção da pandemia. “A gente conseguiu gerar renda para as mulheres bolivianas e, ao mesmo tempo, protegeu migrantes e refugiados de São Paulo que receberam o acessório gratuitamente. Não queríamos repetir a lógica que elas vivem no universo da costura, por isso, fizemos uma ‘costura afetiva’, com prazos maiores e pagamento justo. Elas contaram com o apoio de uma modelista e participaram de todo o processo, inclusive da logística de distribuição. A produção foi dividida em duas etapas e a segunda foi conduzida pelas costureiras. Com isso, quero destacar como um pilar a confiança. Este é um exemplo de que confiar no público com o qual se trabalha pode despertar o potencial enorme que há em cada um”.

Para finalizar sua contribuição, a diretora do FICAS compartilhou um dos aprendizados que foram potencializados com a pandemia: a importância do cuidado. A demanda surgiu a partir da necessidade de distanciamento social, do fechamento de fronteiras e dos órgãos públicos – no caso de organizações que trabalham com migrantes – e da crise generalizada que se instaurou em 2020 e teve fortes impactos no setor social. Andreia contou como surgiram as formações virtuais sobre cuidado: “Cuidar de quem cuida”, voltada profissionais que atuam com migração, e “Balaio de cuidados”, realizada com parceria com a Abong, para atores do campo de direitos humanos.

“Foi desafiador levar nossa metodologia lúdica para o ambiente virtual e a experiência também trouxe muitos aprendizados. As formações gratuitas tiveram entre 8 e 12 encontros e reuniram práticas de cuidado, com um olhar para a atuação de cada um, de cada organização, mas também o cuidado que a gente tem que ter com o outro em geral, conosco e com nosso ambiente. Considero muito importante manter essas práticas de cuidado no pós-pandemia”, declara Andreia.

 

Sobre o ENATS

O encontro nacional aconteceu de 28 de setembro a 2 de outubro de 2020 realizado pelo CeMAIS (Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais) com curadoria da Conviver Saber Social, Nexo Investimento Social e Comissão Permanente do Terceiro Setor – OAB Minas Gerais. O evento tinha como objetivo fortalecer a sociedade civil organizada diante da crise atual, neste contexto de pandemia, e abordou o cenário de futuro, os impactos nas organizações sociais e na sociedade.

> Confira a roda de conversa no YouTube: ENATS 2020.
> Saiba mais sobre os organizadores: CeMAISConviver Saber SocialNexo Investimento Social e Comissão Permanente do Terceiro Setor – OAB Minas Gerais.

 

 

O FICAS em Ação é um informativo mensal que reúne notícias sobre os programas, assessorias, ações e parcerias do FICAS. Jornalista responsável: Paula Rodrigues.

FICAS em Ação é um informativo mensal que reúne notícias sobre os programas, assessorias, ações e parcerias do FICAS. Jornalista responsável: Paula Rodrigues.

Compartilhar