FICAS conduz formações sobre cuidado para a Fundação FEAC
Duas edições reduzidas do “Cuidar de quem cuida” aconteceram neste primeiro trimestre para profissionais do setor social de Campinas (SP).
Neste dia 1º de abril de 2021, termina a segunda turma do “Cuidar de quem cuida” para representantes de organizações da sociedade apoiadas pela Fundação FEAC de Campinas (SP). Cerca de 120 participantes, divididos em dois grupos, puderam vivenciar metodologias adaptadas ao ambiente digital, com o objetivo de fortalecer profissionais do setor social, por meio de reflexões individuais e coletivas sobre o cuidado consigo mesmo, com os outros/as, com o trabalho e com o ambiente.
Cada turma participou de uma formação adaptada para três encontros com duração de 2h30 cada. O “Cuidar de quem cuida” nasceu em 2020 e a formação inaugural contou com 12 encontros online semanais e uma média de 30 participantes de diversas parte do Brasil, incluindo representantes da Venezuela, Peru e Itália. O perfil dos participantes era de profissionais do campo da migração e a formação contou com a parceria da Fundação Avina, Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), Missão Paz e Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR Brasil). Os conteúdos trabalhados são: Autoconhecimento, Confiança, Conexão com si próprio, Relacionamentos (com base nos princípios da Comunicação Não Violenta – CNV), Atuação e Práticas de Cuidado.
“O ‘Cuidar de quem cuida’ busca fortalecer, escutar e apoiar profissionais que estão na linha de frente de atuação nas comunidades, especialmente nesta época de pandemia. Os encontros têm sido espaços para refletir sobre a importância do cuidado e também um chamado para que as organizações dêem uma atenção para esse processo de cuidar de suas equipes. Os módulos aprofundam a relação consigo mesmo, convidam a olharmos o modo como nos relacionamos com as outras pessoas e como nossa prática pode contribuir para a construção de vínculos e ambientes saudáveis, seja para o trabalho ou para vida“, conta Bira Azevedo, consultor FICAS e facilitador das turmas da FEAC.
O FICAS idealizou a formação em um cenário de pandemia de Covid-19 que impacta as mais diversas áreas de atuação, mas especialmente a social, que lida em seu dia a dia com situações emergenciais, buscando soluções urgentes para questões de vulnerabilidade social. O objetivo é tornar um pouco mais leve a carga sobre estes profissionais e lembrar da importância de se cuidar também dos cuidadores/as.
“A experiência com o FICAS foi muito agradável e o sentimento geral dos participantes é de gratidão, empatia e acolhimento. Primeiro, porque a temática do cuidado é muito importante e isso na pandemia ficou óbvio. Entre todas as reflexões, foi fundamental ter um tempo para as pessoas ouvirem seus próprios sentimentos e se permitirem falar sobre isso em grupo nesse momento de isolamento social. Com certeza, esse tipo de atividade vai ser muito importante na retomada do trabalho presencial, porque a gente vai ter que reaprender a conviver“, declara Nathália Garcia, analista de projetos e líder do Programa Qualificação da Gestão de OSC da FEAC.
A parceira também falou sobre a metodologia do FICAS, alinhada a Paulo Freire, destacando a apresentação do conteúdo de forma lúdica, a promoção de reflexões individuais e coletivas, os momentos de trocas, de fala e escuta. “A metodologia é perfeita e faz com que adultos também consigam se soltar e se expressar. E o facilitador, o Bira, é um ponto fortíssimo da formação! A facilitação é envolvente, leve e interessante, mas, ao mesmo tempo trata assuntos sérios com muita responsabilidade. E isso é importante quando se lida com sentimentos, porque nos grupos havia pessoas que passaram pelo luto da doença (Covid), outras que passaram pela própria doença e que estão num momento de se recuperar”, compartilha Nathalia.
Sobre o parceiro
A Fundação FEAC é uma organização independente que investe em ações de educação, assistência social e promoção humana com foco nas regiões e nas populações mais vulneráveis, especialmente crianças e adolescentes, e no impulsionamento de organizações da sociedade civil, empresas e pessoas para as causas sociais. Saiba mais: www.feac.org.br.
Instituto Alcoa e FICAS renovam parceria em avaliação por mais um ano
A assessoria segue com foco no edital do Programa de Apoio a Projetos Locais 2021.
O FICAS e o Instituto Alcoa terminaram o mês de janeiro renovando a parceria na área de avaliação, que já foi realizada nos anos de 2015, 2018, 2019 e 2020. Direcionada ao Programa de Apoio a Projetos Locais, o FICAS tem sido o responsável pela seleção de projetos nas áreas de atuação prioritária do instituto, Educação e Geração de Trabalho e Renda & Empreendedorismo.
O FICAS conduz o processo de seleção, monitoramento e apoio técnico dos projetos e, devido ao cenário de pandemia, algumas atividades precisaram ser adaptadas com o uso de tecnologias digitais. As viagens para realização de workshops de divulgação do edital e assessoria aos representantes de Relações Comunitárias (RCs) e aos Conselhos Consultivos de Relações Comunitárias (CCRCs) da Alcoa, que apoiam o processo seletivo, foram substituídas por reuniões virtuais e o material produzido para divulgação e orientação das organizações foi ainda mais completo, incluindo vídeos de passo a passo. As instituições interessadas em participar do processo seletivo recebem, ainda, instruções sobre o preenchimento da ficha no sistema da Alcoa por e-mail, telefone e WhatsApp como nos anos anteriores.
“Na edição do ano passado, o Edital do Programa de Apoio a Projetos Locais recebeu a inscrição de 67 projetos e 15 foram selecionados para receber apoio do Instituto, com valores de R$ 50 mil a 250 mil, a serem usados em até dois anos. Percebemos que a cada ano os projetos estão mais bem elaborados!“, conta Marcia Quintino, coordenadora técnico-metodológica do FICAS e uma das responsáveis pela parceria com o Instituto Alcoa.
Em 2020, nos meses de abril e maio, o FICAS também assessorou o Instituto Alcoa com a análise de propostas e documentos referentes ao apoio a dois hospitais de campanha, em Poços de Caldas (MG) e São Luís (MA). A ação foi desenvolvida emergencialmente por conta da pandemia e promovida pela Alcoa Foundation.
> Conheça as organizações selecionadas pelo Programa de Apoio a Projetos Locais 2020!
Edital 2021
Estão vigentes até o dia 15/abril as inscrições para a edição deste ano do edital. A iniciativa busca promover coletivamente a educação e o desenvolvimento dos territórios onde a Alcoa atua. Organizações da sociedade civil e/ou do setor público podem inscrever projetos a serem desenvolvidos nas regiões: Juruti/PA (Juruti, Óbidos e Santarém), Poços de Caldas/MG (Andradas, Caldas, Divinolândia/SP e Poços de Caldas) e São Luís/MA (São Luís, Paço do Lumiar, Raposa e São José de Ribamar).
> Informações completas e inscrições aqui: institutoalcoa.sponsor.com.
> Saiba mais sobre o Instituto Alcoa e sobre a Alcoa Foundation.
Atuação no ambiente virtual abre o ano das “Conversas que Fortalecem”
Encontro de março foi o primeiro de 2021 da iniciativa idealizada em parceria pelo FICAS, Instituto Fonte e IDESQ.
Após um ano de pandemia de Covid-19 e uma bagagem de experiências desafiadoras, organizações, coletivos e demais atores sociais foram convidados a compartilhar suas vivências no primeiro encontro de 2021 das Conversas que Fortalecem. Com o tema “Atuação virtual nos tempos de pandemia: desafios e estratégias”, o evento aconteceu pela plataforma Zoom neste dia 30 de março e contou com a participação de 27 pessoas.
“Esse primeiro encontro foi muito bacana, onde a gente teve a participação de novas organizações. Acho que o tema foi bastante assertivo e muito bem posto para esse momento, sentimos o interesse das pessoas em falar sobre esse tema, em trazer suas estratégias, em compartilhar como está vivenciando tudo isso. Imagino que os encontros vão estar cada vez mais consolidados durante este ano e que nesse formato de autogestão mais organizações possam estar à frente da iniciativa. É um espaço leve, necessário e muito democrático, onde todas as pessoas que chegam podem colaborar”, afirma Eudázio Nobre, gestor administrativo do IDESQ, de Fortaleza (CE).
A iniciativa foi idealizada no primeiro semestre de 2020 em parceria pelo FICAS, Instituto Fonte e Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Qualificação Profissional (IDESQ), a fim de promover a troca e reflexão sobre como as organizações da sociedade civil, profissionais do setor e demais atores estão enfrentando as adversidades do contexto atual de pandemia de Covid-19.
A partir de uma reflexão na terceira conversa, foi instituída a periodicidade mensal para os encontros, que são gratuitos e já abordaram temas como: sustentabilidade das instituições no campo social, mobilização de recursos e cultura de doação. Atualmente, além das instituições idealizadoras, duas participantes passaram a integrar o grupo organizador das Conversas que Fortalecem. O objetivo é preservar esse espaço seguro de diálogo e ampliar a participação para cada vez mais organizações.
“No momento atual, precisamos de acolhimento e esta iniciativa nos traz esta escuta e acolhida necessária para uma parcela da população sempre esquecida nas prioridades governamentais e societárias que é a/o trabalhador/a social. Para mim, é como entrar em contato com uma rede de amigos e receber apoio em forma de diálogos e troca de experiências”, afirma Jania Paula, assistente social e captadora de recursos que atua no Centro de Defesa dos Direitos Humanos Dom Oscar Romero (CEDHOR), em Santa Rita (PB). “Acredito que a iniciativa tem o potencial de estabelecer uma ação mais humanista, utilizar a metodologia do diálogo e da troca como método de crescimento coletivo, e espero que possamos construir uma rede nacional de organizações disposta a dialogar, trocar e acolher”, completa a assistente social que também faz parte do grupo organizador das Conversas.
“O Conversas tem um papel importante no dia a dia da nossa atuação. Costumo dizer que a gestão de um projeto social é muito solitária, pois o terceiro setor sofre constantemente grandes mudanças no seu contexto jurídico e de atuação, são muitos desafios diários e nem sempre você tem certeza se está no caminho correto. Poder ter essa troca de experiências com colegas do Brasil todo é como um renovar, saímos dos encontros sempre com um gás a mais”, declara Katiane Maria de Souza, gestora da Escola Fábrica de Espetáculos, no Rio de Janeiro. “A iniciativa pode ter sido idealizada nesse contexto de pandemia, para passarmos por isso juntos, mas faz muito sentido para além dela. Que em 2021 se consolide e fortaleça como um movimento de atuação, escuta e mobilização das questões das instituições sociais”, diz. Atualmente, Katiane também contribui com a organização das Conversas que Fortalecem.
Os links das futuras conversas serão divulgados nos canais de comunicação dos organizadores.
> Saiba mais sobre os parceiros: Instituto Fonte e Idesq.
Diretora do FICAS participa de evento do Dia Internacional da Mulher
Andreia Saul apresentou o programa desenvolvido com mulheres migrantes em webinar promovido pela Fundação Avina.
No dia 8 de março de 2021, a Fundação Avina promoveu virtualmente o webinar “Avina Evolucionarias”, com o objetivo de compartilhar a evolução individual e coletiva das reflexões e incorporação da perspectiva da igualdade e das diversidades de gênero nas ações da instituição. Participaram dezenas de representantes da equipe da fundação dos diversos países onde atua.
No evento, foram compartilhadas duas experiências apoiadas pela Fundação Avina com foco no empoderamento de mulheres. Andreia Saul, idealizadora e diretora executiva do FICAS, participou como convidada para apresentar o “Entre Nós e Entre Rendas”, realizado entre 2018 e 2020 com foco no desenvolvimento socioemocional e econômico de mulheres migrantes, em uma parceria estratégica com a Fundación Avina e a Missão Paz.
O programa tem como objetivo apoiar o desenvolvimento socioemocional e econômico das participantes – até o momento houve turmas de filipinas e bolivianas que vivem em São Paulo (SP). A formação foi estruturada em uma primeira etapa, chamada “Entre Nós”, que busca fortalecer a identidade e autoestima das mulheres, além de trazer informações sobre seus direitos, equipamentos públicos disponíveis, espaços de lazer e cultura, entre outros temas. A segunda etapa, a “Entre Rendas”, tem como foco o empoderamento econômico, a fim de oferecer alternativas de geração de renda para que as mulheres ganhem mais autonomia.
“A Andreia foi convidada para compartilhar no evento esta iniciativa inovadora, que tem contribuído para o fortalecimento socioemocional e financeiro das mulheres imigrantes, gerando uma nova perspectiva na vida das participantes. Neste momento da pandemia, a agenda da migração torna-se ainda mais relevante, frente a ampliação da vulnerabilidade desse segmento“, declara Rogenir Costa, coordenadora programática da Fundação Avina no Brasil.
A outra experiência compartilhada no evento da Fundação Avina foi a Wakanda, educação empreendedora, que tem sede em Salvador (BA), e foi apresentada pela fundadora Karine Oliveira. A iniciativa é um negócio de impacto social que surgiu em 2018 com o objetivo de potencializar negócios de empreendedorismo periférico.
> Saiba mais: Fundação Avina e Wakanda.
ARTIGO: Mulheres são as primeiras que desistem de afundar navios
“As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.”
Ana Cristina César, “Cartilha da cura” (do livro “Aos Teus pés”, de 1982).
Nós, mulheres, estamos vivendo e vendo nos últimos anos e, para algumas, alguns séculos, o navio-brasil afundar. Navio esse cheio de histórias marcadas por violências cotidianas na vida das mulheres. No navio-imigração, vemos a desumanização das mulheres que vivem à margem, reféns do exílio de suas identidades e raízes. Não há nada mais desumanizador que afundar o navio da identidade. Como recomeçar a vida em outro lugar após deixar nossas próprias raízes? Esse navio afundando é o de deslocamento-forçado para sobrevivência. No navio-trabalho, vemos mulheres desempenharem a mesma função que os homens e receberem salários menores. Esse é o navio da desigualdade salarial que coloca diferença sexual no desempenho da mão-de-obra entre homens e mulheres. No navio-família, vemos mulheres cumprindo triplas (na pandemia, quádruplas) jornadas de trabalho. Nosso trabalho doméstico não é remunerado. Somos responsáveis, historicamente, pela reprodução (e criação) da força de trabalho no mundo. Parimos a força-de-trabalho. Esse navio afunda porque as instituições milenares fazem dos corpos das mulheres instrumentos meramente reprodutores e negociáveis.
No navio-pandemia, onde já levou cerca de 310 mil brasileiros/as embora, nós nos encontramos em um surto coletivo desolador. Durante a pandemia da COVID-19, nós mulheres estamos com os olhos mais fundos, com mais olheiras, com a conta no vermelho, com os cabelos mais brancos, com mais tarefas domésticas, com mais problemas para dormir e acordar. Nós estamos com maiores problemas de concentração.
Algumas de nós, vítimas do maldito navio-negreiro e que atualmente vivem nas bordas, somos reféns da fome e do desemprego. O andar de cima, responsável por concentrar 1% da riqueza do país, cotidianamente corta direitos daquelas que são as mais vulneráveis. Como canta Elza Soares, “A carne mais barata do mercado é a carne negra. Só-só cego não vê. Que vai de graça pro presídio e para debaixo do plástico. E vai de graça pro subemprego e pros hospitais psiquiátricos. A carne mais barata do mercado é a carne negra”. Observamos, ouvimos e outras sentem como o racismo opera na vida de milhares de mulheres negras brasileiras.
No navio-vida, vemos mulheres serem mortas por decidirem sobre seus próprios corpos e o Estado se omitindo perante à carnificina dos abortos clandestinos. Política essa de criminalização às mulheres pobres. Observamos, também, mulheres serem mortas por serem mulheres. Por trás de números alarmantes de aumento de feminicídio, sentimos as histórias de famílias interrompidas pelo patriarcado. Vemos parlamentares democraticamente eleitas sendo mortas sob a justificativa de “crime de ódio”. Mas alguém sabe se existe algum “crime de amor”? Há um estímulo histórico de ódio contra as mulheres.
Março passou e todo dia é dia de lembrar que no 8 de março, o parabéns é insuficiente e as flores serão destinadas aos nossos enterros cotidianos. Como parabenizar um navio que afunda? Que possamos fazer memória de cada mulher-indigente, imigrante, desempregada, em situação de cárcere, moradoras em situação de rua que, diariamente, lutam para sobreviver diante desse navio naufragado. Fazemos memória de todas as vezes que nós, mulheres de fé ou não, ouvimos e conhecemos a realidade dessas mulheres que estão à margem. Somos aquelas – junto das crianças – que desistem de afundar navios rumo à reinvenção de uma sociedade habitável e justa.
Tabata Tesser é socióloga formada pela Fundação de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e mestranda em Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Atualmente trabalha como consultora no FICAS e como assessora de projetos em organizações feministas. É colunista da UOL em parceria com o Instituto Diplomacia para Democracia.
Os artigos compartilhados neste espaço estão relacionados à temática mensal da campanha “Que dia é hoje?”, que, em março, abordou o Dia Internacional da Mulher. Os textos não são uma produção do FICAS e refletem as ideias e opiniões de seus autores.