Evento virtual encerra formação voltada a mulheres migrantes
Os ciclos “Entre nós” e “Entre rendas” fazem parte do Programa de Formação de Coletivos de Migrantes e Refugiadas/os, desenvolvido com a parceria estratégica da Fundação Avina e Missão Paz.
Uma feira virtual foi a maneira escolhida para encerrar as atividades do ciclo “Entre rendas”, parte do Programa de Formação de Coletivos de Migrantes e Refugiadas/os, uma parceria estratégica do FICAS com a Fundação Avina e Missão Paz, e que, nesta 3ª edição, também recebeu o apoio do Instituto Consulado da Mulher. A formação contou com a participação de 28 mulheres bolivianas, que vivem em São Paulo.
O trabalho, desenvolvido de dezembro de 2019 a junho de 2020, teve como foco o empoderamento econômico e a geração de alternativas de renda, com aulas de empreendedorismo ministradas pelo Instituto Consulado da Mulher, além de oficinas temáticas sobre saúde da mulher e uso consciente do dinheiro, e de uma roda de diálogo com outras mulheres empreendedoras. O grupo, que majoritariamente trabalha com costura, viveu a experiência de desenvolver projetos de pequenos negócios, como de absorventes ecológicos, bolos, sapatinhos de bebês e revenda de roupas.
“Nós do Consulado da Mulher atuamos com empreendedorismo feminino com foco em capacitação e acompanhamento de ‘nano empreendedoras’. Nosso objetivo é que elas se sintam confiantes, capazes de transformar suas ideias em algo real, ampliar seus negócios para gerar renda, pensar em um futuro melhor. Acreditamos na transformação socioeconômica desse investimento em sua família e na comunidade em que está inserida”, afirma Alessandro Carvalho, facilitador das oficinas junto à turma de bolivianas. “A gente oferece uma consultoria para que elas melhorem seu espaço produtivo, falamos sobre marketing, empreendedorismo, como precificar seu produto, planejamento…”. Alessandro destaca que essa experiência também foi um verdadeiro aprendizado, pois trouxe desafios diferentes dos que estava acostumado devido ao contexto da migração. Fundado em 2002, o Instituto Consulado da Mulher é a ação social da marca Cônsul de eletrodomésticos e tem unidades na cidades onde a empresa tem fábricas: Joinville (SC), São Paulo (SP), Rio Claro (SP) e Manaus (AM).
Os encontros presenciais da formação aconteceram semanalmente entre os meses de dezembro e março. Porém, com o advento da pandemia de Covid-19 foram necessárias mudanças na programação para garantir a segurança de todas/os e os encontros passaram a ser virtuais. O evento final, inicialmente planejado para ser uma feira em local aberto, foi readequado para uma “feira virtual” que aconteceu no dia 29 de junho via live veiculada pelo Facebook. A essência desse encontro foi a apresentação e venda dos produtos criados pelas mulheres, por elas mesmas, mas também contou com um diálogo sobre o programa e falas dos parceiros/as.
“Tive a oportunidade de participar desse programa com um grupo de mulheres bolivianas e a gente, no início, começou a se fortalecer, criando laços de confiança, compartilhando cada momento e foi muito legal. Fomos acompanhadas passo a passo. Necessitávamos muito! Foram muito positivas todas as oficinas, palestras, conteúdo de direitos, conhecimento que acrescenta e é muito bom para nós. Acho que posso afirmar que cada uma de nós criou um novo pensamento, uma nova visão das nossas capacidades como mulheres, para criar e desenvolver novas ideias. No dia a dia, a gente fica entre trabalho, casa, os filhos, agora com as capacitações descobrimos novas oportunidades, possibilidades de novas fontes de rendas inclusive para outras mulheres. E as pessoas novas do grupo vêm com esperanças de novas oportunidades para a mulher imigrante”, declara Laura Suarez, participante do Programa.
Sobre o Programa
A turma deste ano foi composta por parte das mulheres que participaram das edições anteriores do Programa, o “Entre nós”, com ciclos de encontros com foco no desenvolvimento socioemocional, incluindo temáticas como o fortalecimento dos vínculos de confiança e identidade, direitos das mulheres e dos migrantes, entre outros, mas aberto para novas mulheres bolivianas.
A metodologia FICAS tem como pilares a participação, a ludicidade e a afetividade, a fim de criar de forma conjunta novos conhecimentos. Foi a partir das atividades do “Entre nós” que foram identificados a necessidade e o desejo de empoderamento econômico.
“O Entre Rendas é especial porque valoriza o protagonismo das mulheres. Elas não são tratadas como vítimas ou coitadas. Mesmo que tenham passado por situações difíceis podem ser protagonistas, criativas, inovadoras. O trabalho é baseado na esperança e consegue encontrar soluções junto com elas. Hoje celebramos isso: a colaboração inter-institucional e o protagonismo de mulheres migrantes. Esta sinergia, esta parceria tem que ser valorizada, ainda mais nos momentos de pandemia, quando as soluções têm que ser encontradas juntos e não cada um por si”, afirma Padre Paolo Parise, um dos responsáveis pela Missão Paz.
> Saiba mais sobre os parceiros: Fundação Avina, Instituto Consulado da Mulher e Missão Paz.
> Confira a live da Feira Entre Rendas
Projeto produz milhares de máscaras para a população migrante
Iniciativa gerou renda para as costureiras bolivianas residentes em São Paulo e proteção para imigrantes e refugiadas/os em situação de vulnerabilidade.
No dia 9 de junho de 2020, foram entregues 3 mil máscaras a serem encaminhadas pela Missão Paz à população migrante que atende em São Paulo. O acessório, que atualmente é um aliado essencial na prevenção e contenção da pandemia de Covid-19, foi produzido por 28 mulheres bolivianas por meio de uma iniciativa entre o FICAS, a Fundação Avina, o C&A, o Instituto Consulado da Mulher e a Missão Paz.
A produção gerou uma renda de R$ 600,00 para cada uma das 28 mulheres bolivianas que fazem parte dos grupos apoiados pelo FICAS e está protegendo 750 imigrantes e refugiadas/os que receberam gratuitamente caixas com quatro máscaras por meio da Missão Paz.
Essa foi a forma que o FICAS encontrou para apoiar as mulheres bolivianas logo após uma ação de doação de cestas básicas, pois todas estavam praticamente sem renda. Essa produção foi um processo rico de aprendizagens para o FICAS e para as mulheres, que se organizaram em grupos e escolheram desde o nome das máscaras até a embalagem que foi utilizada, além de planejarem toda a logística. Khuyanakuy, que significa “amor recíproco” em quechua, foi o nome escolhido para as máscaras.
“O processo de migração acontece num contexto de desigualdades e nós, enquanto organizações que trabalhamos para desenvolver a sustentabilidade, precisamos cuidar dessas pessoas que estão longe de seus países. E as mulheres estão numa situação de maior vulnerabilidade, especialmente em razão da desigualdade de gênero e do machismo, que estão presentes em quase todos os contextos sociais. Daí a necessidade de termos ações voltadas para essa perspectiva do empoderamento das mulheres”, afirma Rogenir Costa, da Fundação Avina em live de encerramento do ciclo “Entre Rendas” do programa, realizada em junho. “Ao longo desses dois anos que temos desenvolvido essa experiência com o FICAS, tem sido extremamente importante apoiar coletivos de mulheres na perspectiva de que elas possam desenvolver seu potencial, suas capacidades e construir melhores condições para sobreviver. O depoimento da Laura (Suarez), que disse que o projeto proporcionou ‘uma nova visão das nossas capacidades como mulheres’, é um resumo exato daquilo que foi sonhado pelo FICAS, pela Fundação Avina, pela Missão Paz”, celebra.
Essa ação foi possível graças a doação de materiais feita pelo C&A, do apoio financeiro da Fundação Avina, da doação emergencial do Instituto Consulado da Mulher e da doação de muitos parceiros/as e amigos/as via a mobilização online “FICAS de máscaras”, que recebeu doações entre maio e junho e arrecadou R$ 7.535,00. Os valores pagaram a mão de obra, logística, embalagem e modelista.
“Foi muito gratificante poder contribuir de perto com o projeto. Estive à frente de parte da logística, cuidando do transporte e compra de materiais e embalagens, e mantive contato com o grupo para fecharmos as entregas e distribuições. Iniciativas como esta são importantes e grandiosas, pois por um lado colaboram com a proteção de pessoas em situação de vulnerabilidade e por outro dão suporte às empreendedoras, para que possam entender o valor de seu trabalho, evitando a exploração, e descobrir do que realmente são capazes”, conta Michele Honorata, responsável pela área administrativo-financeira do FICAS.
> Veja fotos da entrega das máscaras no Facebook do FICAS.
> Saiba mais sobre os parceiros: Fundação Avina, Instituto C&A, Instituto Consulado da Mulher e Missão Paz.
(Fotos: Raquel Catalani/FICAS)
É tempo de cuidar do cuidador/a!
“Cuidar de quem cuida” e “Balaio de cuidados” foram duas iniciativas online direcionadas a profissionais do campo social.
O mundo vive hoje os impactos de uma pandemia que se estendem pelas mais diversas áreas, da mais emergencial que é a da saúde, passando pela econômica, política e, como não podia ser diferente, pelo âmbito social. As soluções precisam ser buscadas quase que em tempo real e as organizações, coletivos e atores sociais, que já trabalhavam com cenários de vulnerabilidade social, precisam se repensar para lidar com novas questões.
Foi assim que surgiram quase que simultaneamente duas iniciativas de formação virtual gratuitas voltadas a profissionais de organizações da sociedade civil: o “Cuidar de quem cuida”, desenvolvido com a Fundação Avina, com apoio do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), a Missão Paz e o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR Brasil), e o “Balaio de cuidados”, uma parceria com a Abong – Organizações em Defesa dos Direitos e Bens Comuns. Ambas foram pensadas como espaços de reflexão e aprendizagens sobre cuidados, em uma perspectiva de aprender a cuidar de nós mesmas/os para poder cuidar do outro.
Cuidar de quem cuida
Esse ciclo teve como objetivo fortalecer profissionais que atuam no campo da migração, por meio de reflexões individuais e coletivas sobre o cuidado consigo mesmo, com os outros/as, com o trabalho e com o ambiente. Os encontros contaram com uma média de 30 participantes de diversas parte do Brasil, incluindo representantes da Venezuela, Peru e Itália. A formação teve 12 encontros online semanais entre os meses de abril e julho de 2020. O conteúdo foi trabalhado em quatro módulos: Autoconhecimento, Relacionamentos, Atuação e Práticas de Cuidado.
“Foi muito bacana participar da formação, de ter um tempo de revisitar nossa atuação enquanto rede de apoio, o que é muito raro acontecer, especialmente em tempos de isolamento social. Foram momentos de valorizar nossa trajetória como cuidadores, refletir sobre os novos desafios trazidos pela pandemia e de reorganizar nossa atuação individual e coletiva para incidir positivamente em benefício de todos, e especialmente em prol das pessoas com as quais trabalhamos. A metodologia utilizada permitiu que os desafios surgidos pelo formato digital fossem sendo adaptados com muita criatividade e entusiasmo”, conta Cyntia Sampaio, assistente social atuante na promoção dos direitos humanos de pessoas em situação de migração e refúgio.
“Foi uma experiência fantástica para a (re)tomada de consciência e afirmação do meu fazer na atividade como voluntário. Além de reafirmar o prazer em fazer, consegui olhar com mais carinho para as minhas limitações. Houve ganho de autoestima e autoconfiança. Achei que os conteúdos estavam bem adequados às necessidades de autopercepção e ao estresse causado pelo isolamento social e pela pandemia de Covid-19. A metodologia foi rica de elementos que nos atraíram para as atividades, como padrão de cores, símbolos, músicas. Reforçavam os laços afetivos e a sensação de pertencimento ao grupo. As dinâmicas propostas estavam coerentes com a condição ‘não presencial’. Eram de fácil execução, interativas e contagiantes. A distribuição dos tempos fui suficiente para a realização das atividades, para a exposição das conclusões e a fala foi oportunizada a todos”, declara Roberto Campos Portela, voluntário do Serviço Pastoral dos Migrantes, de Goiânia (GO).
“A oportunidade de participar foi fundamental nesse momento de pandemia em que as demandas não param e a gente precisa aprender a se reinventar para lidar com os novos desafios. A metodologia era muito interessante, pois sempre havia uma dinâmica nova, trabalhos em grupo, atividades lúdicas que incentivavam a criatividade”, afirma Marisa Zephyr, voluntária da Pastoral do Migrante de Campo Grande (MS). “O módulo mais importante, do meu ponto de vista, foi o primeiro, focado no autoconhecimento. Ter a oportunidade de refletir sobre nossa presença no mundo, nossas qualidades e desafios, acaba despertando um novo olhar sobre nós mesmos e ajuda a potencializar nossas atuações”, diz.
Balaio de cuidados
A fim de fortalecer a resiliência de pessoas que atuam no campo de direitos humanos, estimulando o compartilhamento de experiências e as ações coletivas, o “Balaio de cuidados” foi desenvolvido em oito encontros semanais nos meses de maio e junho. Além dos módulos de Autoconhecimento, Relacionamentos e Articulações, e Atuação, a formação incluiu um quarto sobre Sustentabilidade, parcerias e alianças. A média foi de 30 participantes.
“O Balaio de Cuidados foi um processo de autoconhecimento e de trocas importantes com outros participantes. O fato de haver pessoas de diferentes partes do Brasil proporcionou uma riqueza de experiências, ao mesmo tempo em que observamos várias questões em comum, típicas do trabalho da área social. No fim, acredito que todo mundo saiu com a proposta de cuidar de si mesmo com a mesma importância e cuidado com que cuidam das outras pessoas“, analisa Sandra Pupo, consultora do FICAS e participante da formação. “Notei um comprometimento positivo e uma alegria das pessoas em participar, inclusive da minha parte. Em alguns dias, as reflexões provocadas foram intensas, em outros, mais leves e lúdicas. Também achei legal a diversidade de recursos: textos, músicas, poemas”, completa.
> Conheça os parceiros: Fundação Avina, IMDH, Missão Paz, SJMR Brasil e Abong.
“Conversas que fortalecem” articulam organizações em tempos de pandemia
Os encontros virtuais reuniram representantes de instituições do campo social de diversos locais do Brasil.
Qual o impacto da pandemia de Covid-19 na estrutura, funcionamento e fazer das organizações? Foi com esse questionamento que o Instituto Fonte, o Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Qualificação Profissional (IDESQ) e o FICAS promoveram juntos dois encontros virtuais com outras organizações da sociedade civil para falar sobre o contexto atual.
Intitulados “Conversas que fortalecem”, os encontros têm como objetivo promover a troca de informações, aprendizados, desafios e refletir sobre como cada instituição está vivendo o momento atual de adversidades geradas pela pandemia. O último encontro, realizado em 7 de maio, reuniu cerca de 20 organizações de diversos estados do país: Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.
“Ouvir os relatos, experiências e desafios, compartilhar e trocar aprendizados, foi e é o grande ganho das ‘Conversas que fortalecem’. Reafirma a importância de compor coletivos, redes de organizações para o fortalecimento do campo social“, afirma Suzany Costa, consultora associada do Instituto Fonte residente de Fortaleza (CE) e uma das idealizadoras dos encontros. “A pandemia é um momento novo e hoje, após mais de 100 dias de início deste estado do mundo, é necessário escutar e compreender o que se moveu nas organizações e como agir coletivamente”, completa.
Entre as principais preocupações dos participantes estão a sustentabilidade para funcionamento das organizações (mobilização de recursos e parcerias), o aumento da violação de direitos em tempos de Covid-19 e o fechamento para a participação na construção de políticas públicas, além da situação da população em alta vulnerabilidade social, os cuidados com a saúde física e mental das equipes que prestam atendimento direto, entre outras.
“O encontro aconteceu em um momento em que as pessoas estavam se repensando, buscando novas formas de atuar a partir do que já faziam. Houve falas significativas sobre o impacto emocional nas equipes e questionamentos sobre como chegar até as pessoas num momento pandêmico em que se precisa tomar diversos cuidados”, conta Eudázio Nobre, gestor administrativo do IDESQ, de Fortaleza (CE). “Foi muito bom, em meio ao isolamento, poder falar e ouvir outras organizações, descobrir que estão passando por dificuldades semelhantes às nossas e estão encontrando caminhos criativos para seguir com seus trabalhos. Foi uma maneira da gente se reconectar, se organizar em redes“, diz.
O grupo demonstrou interesse em seguir com os encontros e ampliar a participação para mais organizações, dialogando sobre as questões urgentes do setor em um ambiente seguro. Futuras atividades serão divulgadas nos canais de comunicação dos organizadores.
> Leia mais no site do Instituto Fonte..
> Saiba mais sobre os organizadores: Instituto Fonte e Idesq.